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Casa de apoio no DF acolhe mulheres que desistiram do aborto

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Uma casa de apoio localizada em Samambaia Norte, abriga mães que desistiram de abortar. No local, os bebês são amparados até os 3 anos e recebem  gratuitamente assistência pedagógica, alimentação e cuidados especiais. Segundo Areolino Dias, responsável pelo lar, quase todas as mulheres chegam até ele acreditando que irão fazer um aborto clandestino.



A casa, que foi inaugurada há cinco anos, pode abrigar até 50 bebês. Atualmente, há 30 na fila. Sem ajuda do governo, Dias diz gastar R$ 20 mil por mês com a manutenção do espaço, que sobrevive por meio de doações.

“Nós fazemos um trabalho de resgate, sabe? As mulheres, geralmente, fazem pesquisas na internet e chegam até nós. É um trabalho de formiguinha. Explicamos que aborto é crime, pecado e que há consequências enormes em relação ao ato. Em troca, oferecemos todo o atendimento necessário para ela e o bebê.”

As mulheres que chegam até a “Casa de Missão” têm entre 15 e 43 anos. A maioria é abandonada pelos companheiros ou sofreram estupro. Moradoras de Ceilândia, Sobradinho e Guará são as que mais procuram o local.

“São mulheres frágeis, sem condições psicológicas ou físicas. Algumas chegam com o próprio companheiro, muitas vezes jovens ou até mesmo amantes, que querem que elas tirem de qualquer jeito o neném. Felizmente, conseguimos recuperar todas as mulheres que passaram por aqui. Salvamos sempre duas vidas”, conta Dias.

A creche funciona em período integral, das 7h às 17h. São 14 funcionários, entre psicólogos, pedagogos, cozinheiros, advogados e pediatras. No local, além de estudo e lazer, são oferecidas cinco refeições. As mães são encaminhadas para o mercado de trabalho e podem ficar na casa até o filho completar 6 meses de vida.

“Já chegou um casal de estrangeiros em que a mulher estava com o vírus da zika. Ela ainda não tinha confirmado se o bebê estava com microcefalia. Mesmo assim, queriam tirá-lo. Dissemos que a doença não era desculpa para cometer um assassinato. Acreditamos que novos casos como esse venha a surgir. Por isso, estamos estudando e lendo mais sobre isso”, diz Dias.

Atualmente, há quatro mulheres abrigadas. Ex-usuária de crack, Cleide Alves, de 42 anos, conta que teve o quinto filho na casa de apoio. Com o companheiro preso e sem moradia ou dinheiro para sustentar a criança, ela foi até o local – acreditando ser uma clínica de aborto. Hoje, a mulher segura nos braços com felicidade, a pequena Rihanna Victória de apenas três meses.

“Eu era viciada em drogas. Meu companheiro foi preso por interceptação. Eu estava sozinha. Só conseguia pensar em uma solução: tirar minha filha. Eu não tinha alternativa. Cheguei na casa, por meio de boca a boca, e conheci o pessoal. Fico arrepiada só de lembrar”, diz emocionada.

Dias e os funcionários da “Casa de Missão” convenceram Cleide a não abortar. A menina nasceu de parto natural no próprio abrigo. Agora, Cleide trabalha na creche como cozinheira, recebe R$ 1 mil por mês e alugou uma casa em Planaltina.

“Sou uma nova mulher. Eles fazem de tudo por nós, sabe? Até mobiliaram minha casa. Sempre digo que renasci com o nascimento da Rihanna. Olha, não foi fácil passar por tudo isso. Mesmo assim, viveria tudo de novo. Hoje, posso dizer que sou feliz.”

Uma estudante de arquivologia da Universidade de Brasília, que preferiu não se identificar, está grávida de 7 meses de uma menina. A jovem, de 21 anos, saiu de Teresina, no Piauí, para ingressar no ensino superior. Os pais ainda não sabem da gestação.

“Não contei. Tenho medo de decepcionar, sabe? Aliás, tenho certeza que já decepcionei. Eles apostaram em mim. Mesmo assim, não tem muito o que fazer agora”, diz. A jovem chegou até o local por meio de uma pesquisa na internet. Ela diz que encontrou uma mulher que vendia um remédio abortivo e a procurou pelo celular.

“Ela começou a me dizer sobre os riscos, disse que eu poderia até morrer e me encaminhou para a casa de abrigo. Eles me convenceram a não abortar. Optei por não fazer isso e pensei em adoção. Agora, não quero isso mais. Já me sinto mãe dela, entende? Sei que vamos ser amigas, companheiras.”

A estudante diz que não tem mais contato com o pai da criança. Eles moravam na Casa do Estudante Universitário, destinada a alunos em situação de vulnerabilidade, cujas famílias residem fora do DF. O relacionamento durou um ano.

“Ele me pediu para tirar a criança e eu também. Na época, tinha achado uma boa ideia. Não o julgo. Agora, só quero ter minha filha, terminar os estudos e voltar a trabalhar. Só vou contar para os meus pais quando ela nascer.”

A jovem acredita que, caso não estivesse no abrigo, estaria morta. “A casa de apoio foi decisiva na minha escolha. Caso tivesse tomado o remédio, por exemplo, poderia ter tido uma hemorragia e morrido. Tenho muita gratidão por essa casa. Não vejo a hora de ver o rostinho da minha bebê.”

Atualizado em 27/02/2016 – 10:30.

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