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Iratinia australis

Brasileiros encontram fóssil de planta cicadácea de 280 milhões de anos

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Foto/Imagem: Divulgação
Lucas George Wendt

Muito presentes nos jardins brasileiros e conhecidas como sagu-de-jardim (Cycas revoluta), as cicas são plantas que a maior parte das pessoas sabe identificar pois já viu alguma. No entanto, o que poucos conhecem é a história evolutiva desse grupo de plantas, que ganhou mais um antepassado recentemente. A partir de um fóssil localizado em Rio Claro, em São Paulo, no que antes era o supercontinente Gondwana, a descoberta científica da Iratinia australis foi publicada recentemente na revista Review of Paleobotany and Palynology.

O fóssil encontrado pelos pesquisadores é de uma planta cicadácea (ordem Cycadales), linhagem que sobreviveu a três das extinções em massa que assolaram a biodiversidade global ao longo dos últimos 280 milhões de anos, incluindo a dos dinossauros. Apesar de terem resistido, por exemplo, à extinção do Permiano-Triássico, há 250 milhões de anos – a maior já registrada -, e à do Cretáceo-Paleógeno, há 65 milhões de anos, as cicadales nunca chegaram a dominar o reino vegetal, uma vez que não são capazes de produzir flores e frutos (como as angiospermas).

Elas se espalham, na verdade, por meio de sementes, pois são gimnospermas. Mesmo assim, descendentes da Iratinia australis continuaram evoluindo, servindo de provável alimento a dinossauros herbívoros durante milhões de anos e, atualmente, de ornamento para os jardins.

O fóssil de cicadácea identificado é um pequeno pedaço de madeira, com cerca de 12cm de comprimento e 2,5cm de diâmetro. Quando foi descoberto, os paleobotânicos descreveram-no como um licopódio que, apesar de ser próximo às samambaias, possui características externas semelhantes às cicas e que também era comum em Gondwana naquele intervalo de tempo. O estudante de doutorado Rafael Spiekermann, que atualmente está no Museu de História Natural Senckenberg, na Alemanha, desenvolvendo sua tese sobre licopódios, decidiu reavaliar o material para sua pesquisa. Suas análises apontaram que o fóssil se tratava, na verdade, não de um licopódio, mas de uma cicadácea – mudando o que se conhece sobre a história evolutiva dessa planta.

Para o professor André Jasper, pesquisador da Universidade do Vale do Taquari – Univates, e um dos autores do estudo, o achado é um exemplo de que a ciência não acontece de forma imediata e, sim, demanda tempo e recursos. Jasper orientou Spiekermann quando ao longo de toda a sua graduação no Brasil, quando o pesquisador era estudante de Ciências Biológicas na Univates.

“O fóssil possui uma anatomia totalmente diferente”, revelou Spiekermann ao The New York Times recentemente, onde a novidade foi notícia. “Se você cortar uma cicadácea hoje, verá que os padrões anatômicos são semelhantes”, explica.

Jasper ainda revela que “o material encontrado é o mais antigo exemplar de madeira fossilizada que preserva as características anatômicas das cicadáceas”. Além disso, a identificação do fóssil sugere que esse tipo de vegetal estava bem estabelecido enquanto espécie há 280 milhões de anos. “Na área da paleobiologia, esse fóssil é muito importante, pois ele permite indicar que todo o grupo de cicas surgiu antes do que se imaginava”, destaca. O pesquisador estuda paleobotânica há 30 anos.

Um dos maiores desafios do campo de estudo dos pesquisadores como o professor André Jasper e o doutorando Rafael Spiekermann é preencher todas as lacunas da paleontologia evolutiva no que concerne às plantas. Existe um interesse amplo na paleozoologia, dedicada às formas de vida animais, mas a paleobotânica ainda tem muito espaço para se desenvolver.

“Como esse grupo, as cicas, é um muito antigo, acompanhamos essas plantas para ver como elas se comportam em termos paleoambientais a partir do registro fóssil”, conta Jasper. O estudo dos pesquisadores tem implicações filogenéticas, ou seja, vai impactar os cladogramas – diagramas que demonstram as relações entre organismos – pois situa as cicas milhões de anos antes do que os estudos prévios fizeram.

“Esse fóssil tem a capacidade de alterar a compreensão das relações evolutivas entre os organismos vegetais”. A partir da descoberta, surgem novas perguntas e novas possibilidades de interpretação em relação à história evolutiva dessas plantas. “Como aconteceu a sua migração?”, “Elas surgiram em Gondwana e se espalharam para outros lugares?”, são algumas delas.

O estudo está agora à disposição da comunidade científica. A caracterização taxonômica do espécime é extremamente importante para outros pesquisadores que estejam interessados em estudar as Cicadales, por permitir a comparação da descrição quando outros estudiosos estiverem analisando novos fósseis. “Se alguém realizar uma diagnose em outro fóssil e encontrar as mesmas características que encontramos na Iratinia, vai ser a mesma espécie ou gênero”.

Iratinia australis

O fóssil foi encontrado na formação de Irati, que compreende os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, e é daí a origem de seu nome científico, Iratinia australis. O local apresenta afloramentos fósseis de vegetais do período Permiano, que foi de 252,1 milhões a 298,9 milhões de anos. As análises situam o fóssil da Iratinia no Kungariano (de 279,3 milhões a 272,3 milhões de anos), uma das idades nas quais o Permiano se subdivide. Para termos de comparação, os primeiros fósseis de dinossauros têm a idade de 233 milhões de anos.

O estudo

Foi realizado pela Universidade do Vale do Taquari – Univates, em parceria com o Museu de História Natural Senckenberg, em Frankfurt, na Alemanha, e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). O material foi coletado na década de 1980, depositado na coleção do Museu da Terra, no Rio de Janeiro, que pertence à Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, e órgão executor do Serviço Geológico do Brasil (SGB). A partir daí ele acabou sendo enviado à Ufgrs.

Os autores

O estudante de doutorado Rafael Spiekermann é o autor principal do estudo. A pesquisa tem contribuição do professor doutor André Jasper, do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates; das doutoras Anelise Marta Siegloch e Margot Guerra-Sommer, do Instituto de Geociências da Ufrgs; e do doutor Dieter Uhl, vinculado ao Museu de História Natural Senckenberg e professor do PPGAD.

Outras espécies descritas

O PPGAD da Univates tem desenvolvido diversos trabalhos na área da paleobotânica, com a coordenação do professor Jasper. A pesquisa nasce no Laboratório de Paleobotânica e Evolução de Biomas, vinculado ao Museu de Ciências (MCN). O amplo trabalho na área da paleobotânica culmina com uma produção científica crescente. A Iratinia australis se soma a outras três espécies já descritas pela equipe do Laboratório: Coricladus quiteriensis, Lycopodites riograndensis e Rhodeopteridium iporangae, todas encontradas na Formação de Rio Bonito.

Fomento

Além da Universidade do Vale do Taquari – Univates, a pesquisa tem fomento de órgãos brasileiros e alemães por meio da Fundação de Ampara à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD) e da Alexander von Humboldt Foundation (AvH).

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Caderneta atualizada

Saúde nas Escolas busca ampliar vacinação entre crianças e adolescentes

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Ao Vivo de Brasília
Vacinação Saúde nas Escolas
Foto/Imagem: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF

Para promover a saúde e prevenir doenças, escolas públicas de todo o país se mobilizaram, nesta segunda quinzena de abril, para atualizar a caderneta de vacinação dos estudantes atendidos pelo Programa Saúde nas Escolas (PSE). A ação envolve mais de 27 milhões de alunos de cerca de 110 mil escolas em 5.544 municípios. No Distrito Federal, mais de 365 mil estudantes de 9 a 14 anos da rede pública foram beneficiados, e a campanha de intensificação na capital federal seguirá até novembro.

A diretora de Atendimento e Apoio à Saúde do Estudante, da Secretaria de Educação (SEEDF), Larisse Cavalcante, destaca que a adesão ao Programa Saúde na Escola para o ciclo 2025/2026 foi a maior da história do DF, com um aumento de 25% em relação ao biênio anterior. “A expectativa é fortalecer o planejamento conjunto entre a UBS [Unidade Básica de Saúde] e a unidade escolar de cada território, com o objetivo de ampliar a cobertura vacinal. Dessa forma, as escolas estarão engajadas em desenvolver a temática da vacinação como um conteúdo transversal a várias disciplinas, contribuindo para o combate à desinformação e a orientação sobre sua importância”, afirma.

Dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) mostram que, entre 10 e 22 de março — período em que a vacinação foi antecipada —, foram aplicadas 1.764 doses de vacinas nas escolas. Desse total, 1.313 doses (74,4%) foram administradas em crianças e adolescentes de até 18 anos. Ao todo, 1.191 pessoas foram vacinadas, sendo 852 delas crianças e adolescentes nessa faixa etária. A estratégia de vacinação escolar não possui meta definida.

“A vacinação nas escolas ocorre de maneira articulada entre equipes de saúde e educação, seguindo etapas que envolvem planejamento, mobilização familiar, execução e monitoramento dos resultados”, explica a coordenadora de Atenção Primária à Saúde da SES-DF, Sandra Araújo. Segundo ela, esta ação desempenha um papel fundamental na ampliação da cobertura vacinal entre crianças e adolescentes, por isso, a mobilização das famílias e o acompanhamento sistemático das ações fortalecem o vínculo entre os serviços públicos e a comunidade escolar, com o intuito de promover a conscientização coletiva sobre a importância da imunização.

Como funciona?

O trabalho de vacinação nas escolas segue um fluxo organizado. Primeiro, são identificadas as escolas prioritárias, selecionadas com base em critérios como a cobertura vacinal da região, o tamanho da instituição, a vulnerabilidade social e a adesão ao Programa Saúde na Escola. Em seguida, ocorre a articulação prévia com as escolas: as equipes das unidades básicas de saúde (UBSs) entram em contato com a direção para alinhar datas, espaço físico e o fluxo de atendimento.

Após essa etapa, é feito o agendamento das ações de vacinação, que acontecem em ciclos ao longo do ano, com foco na atualização da caderneta vacinal e na aplicação de doses de campanhas específicas, como as de HPV, meningite e gripe. As famílias também são mobilizadas, com o apoio das escolas, que reforçam a importância da vacinação e orientam sobre o envio da caderneta e do termo de autorização assinado. Na fase de execução, as equipes da UBS se deslocam até as escolas com os insumos, vacinas e equipamentos de segurança.

Após a vacinação, os dados são registrados nos sistemas oficiais. Por fim, é feito o monitoramento dos resultados, e, caso haja alta recusa ou ausência significativa, as equipes podem retornar em outra data ou convocar os estudantes para vacinação nas UBSs.

Programa Saúde nas Escolas

O programa, que já existe há 18 anos, visa estreitar os laços entre as unidades de saúde e de educação por meio de ações educativas, como campanhas de vacinação, escovação dentária, atividades de combate à dengue, palestras e outras atividades, sempre com uma linguagem adequada à faixa etária dos alunos. As ações são promovidas pelas secretarias de Educação e de Saúde, contribuindo para a formação integral e para a ampliação do acesso aos serviços de saúde pública.

Até o momento, o Distrito Federal possui 632 colégios inscritos no Programa Saúde na Escola, uma iniciativa conjunta dos ministérios da Educação e da Saúde para a promoção e prevenção em saúde.

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Conta de luz mais cara

Aneel anuncia bandeira tarifária amarela para o mês de maio de 2025

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Ao Vivo de Brasília
Bandeira tarifária maio 2025
Foto/Imagem: Freepik

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que a bandeira tarifária para maio de 2025 será amarela. Isso significa que os consumidores de energia elétrica terão custo de R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos. O anúncio ocorreu devido a redução das chuvas em razão da transição do período chuvoso para o período seco do ano. As previsões de chuvas e vazões nas regiões dos reservatórios para os próximos meses ficaram abaixo da média.

Desde dezembro de 2024, a bandeira tarifária permanecia verde, refletindo as condições favoráveis de geração de energia no País. Com o fim do período chuvoso, a previsão de geração de energia proveniente de hidroelétrica piorou, o que nos próximos meses poderá demandar maior acionamento de usinas termelétricas, que possuem energia mais cara.

Implementado pela Aneel em 2015, o sistema de bandeiras tarifárias é uma ferramenta essencial de transparência, permitindo que os consumidores acompanhem, mês a mês, as condições de geração de energia no País.

Com o acionamento da bandeira amarela em maio de 2025, a Aneel reforça que é crucial manter bons hábitos de consumo para evitar desperdícios e contribuir para a sustentabilidade do setor elétrico.

Saiba mais sobre as bandeiras tarifárias

Criadas em 2015 pela Aneel, as bandeiras tarifárias refletem os custos variáveis da geração de energia elétrica. Divididas em níveis, as bandeiras indicam quanto está custando para o Sistema Interligado Nacional (SIN) gerar a energia usada nas casas, em estabelecimentos comerciais e nas indústrias.

Quando a conta de luz é calculada pela bandeira verde, não há nenhum acréscimo. Quando são aplicadas as bandeiras vermelha ou amarela, a conta sofre acréscimos de R$ 1,885 (bandeira amarela), R$ 4,463 (bandeira vermelha patamar 1) e R$ 7,877 (bandeira vermelha patamar 2) a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. De setembro de 2021 a 15 de abril de 2022, vigorou uma bandeira de escassez hídrica de R$ 14,20 extras a cada 100 kWh.

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